Trump e China na cúpula do G-20 em Osaka, no Japão, em junho Foto: Kevin Lamarque / REUTERS/29-6-2019
Segundo ex-secretário de Estado que negociou reaproximação entre Washington e Pequim, países estão à beira de guerra fria, mas ainda é possível evitar confronto
NOVA YORK — O ex-secretário de Estado dos EUA Henry Kissinger disse que os EUA e a China estão “no sopé de uma guerra fria ” e alertou que o conflito poderia ser pior do que a Primeira Guerra Mundial se não houver iniciativas para controlá-lo.
— Na minha opinião, isso torna especialmente importante que um período de relativa tensão seja seguido por um esforço explícito para entender quais são as causas políticas e um compromisso dos dois lados para tentar superá-las — disse Kissinger em uma sessão do Novo Fórum Econômico, promovido pelo grupo Bloomberg. — Não é tarde demais para isso, porque ainda estamos no sopé de uma guerra fria.
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Kissinger — que como conselheiro de Segurança Nacional e secretário de Estado de Richard Nixon (1969-1974) negociou o reatamento entre Washington e Pequim — disse que a magnitude da China e dos EUA combinados excede a dos EUA e da antiga União Soviética, e que as duas maiores economias do mundo, que travam uma prolongada guerra comercial, “estão fadadas a pisar nos calos uma da outra, no sentido de estarem consciente dos propósitos do outro lado”.
— Portanto, uma discussão sobre nossos propósitos mútuos e uma tentativa de limitar o impacto do conflito me parece essencial — disse ele. — Se permitirem que o conflito corra sem restrições, o resultado poderá ser ainda pior do que na Europa. A Primeira Guerra Mundial estourou porque uma crise relativamente pequena não pôde ser administrada.
Kissinger, de 96 anos, disse esperar que as negociações comerciais forneçam uma abertura para as discussões políticas entre os dois países.
— Todo mundo sabe que as negociações comerciais, que espero que sejam bem-sucedidas e cujo sucesso eu apoio, podem ser um pequeno começo para uma discussão política que, espero, aconteça — acrescentou ele.
Kissinger falou no fórum horas depois do vice-presidente chinês Wang Qishan, que afirmou que seu país estava comprometido com a paz e continuaria adaptando suas políticas apesar de enfrentar desafios internos e no exterior.
— Entre guerra e paz, o povo chinês escolhe firmemente a paz. A humanidade aprecia a paz — disse ele. — Devemos abandonar o pensamento de soma zero e a mentalidade da Guerra Fria.
Os EUA e a China estão tentando chegar a um acordo comercial parcial em meio a tensões mais amplas, que vão desde preocupações com os protestos pró-democracia em Hong Kong e a detenção de muçulmanos na região chinesa de Xinjiang até a competição estratégica no Mar do Sul da China. Kissinger disse que achava que uma solução para a agitação em Hong Kong é possível, se não provável, e que esperava que a situação fosse resolvida por meio de negociação.