Marko Perkovic já cantou frases utilizadas por grupos nazistas da Segunda Guerra Mundial. Cantor e técnico da seleção croata minimizaram polêmica. Cantor Marko Perkovic, da banda nacionalista Thompson, canta durante comemoração do vice-campeonato da Croácia na Copa do Mundo
Reprodução/Youtube
A polêmica sobre o uso de símbolos nacionalistas por jogadores da Croácia na Copa do Mundo não acabou. Diante de mais de 500 mil pessoas na comemoração do vice-campeonato na segunda-feira (16) na capital Zagreb, os atletas croatas subiram ao palco com Marko Perkovic, vocalista da banda Thompson — descrita como apoiadora do nazifascismo por alguns setores do país.
A banda é conhecida na Croácia por ter usado símbolos considerados ligados à Ustache, facção ultranacionalista que tomou o poder no país durante a Segunda Guerra Mundial após a invasão da Alemanha nazista na Iugoslávia.
A Ustache participou do extermínio de sérvios, judeus, muçulmanos e ciganos no país na década de 1940. Por isso, apresentações do grupo são proibidas em países como Holanda, Alemanha e Suíça.
Seleção da Croácia cruza multidão em carro aberto durante festa de recepção após 2º lugar na Copa
Denis Lovrovic/AFP
Perkovic tirou fotos com jogadores da seleção croata. Ivan Raktic, um dos principais atletas do time, publicou uma imagem com o vocalista da banda Thompson e a legenda: “o rei chegou”.
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O próprio Perkovic afirmou que o jogador Luka Modric e o técnico Zlatko Dalic convidaram o cantor para participar da festa. Modric, inclusive, passou boa parte da apresentação ao lado do vocalista a banda Thompson.
Zlatko Dalic e Luka Modric festejam vice-campeonato da Croácia na Copa do Mundo
AP Photo/Darko Vojinovic
Segundo o site croata de notícias Index, o treinador se irritou ao ser perguntado sobre a presença de Perkovic:
“A Croácia é a segunda [seleção de futebol] do mundo, um milhão de pessoas estão nas ruas, e você me pergunta sobre os cantores? Por favor, não, por favor, respeite essas pessoas aqui”.
Durante a apresentação na segunda-feira, porém, Perkovic não entoou nenhuma música considerada polêmica. No entanto, ele mesmo admitiu que cantaria qualquer música que os jogadores pedissem, inclusive a polêmica “Bojna Cavoglave” (saiba mais abaixo).
Perkovic nega ter relação com o nazifascismo na Croácia. Em entrevista em 2007, o vocalista da banda afirmou que são “apenas patriotas”.
Reações diversas
A presença de Perkovic nas comemorações de segunda-feira não foi bem recebida mesmo entre boa parte dos croatas. Uma enquete no site Index mostra que mais de 60% desaprovaram a presença do cantor na festa do time vice-campeão da Copa do Mundo.
De acordo com o jornal Vecerjni List, alguns políticos chamaram Thompson de ‘lixo fascista’. Perkovic respondeu: “Eu acho que [isso diz] tudo sobre eles. Todo mundo tem o direito de fazer uma declaração, um comentário, mas não tem o direito de insultar”.
Um dos organizadores do evento, Kresimir Dolencic, também desconversou sobre a polêmica de Perkovic:
“Ele [Perkovic] é um típico croata, e eu deveria estar mais preocupado com o penteado do [jogador] Versaljko”.
Polêmica durante a Copa
Frame do videoclipe de Bojna Cavoglave, da banda croata Thompson
Reprodução/Youtube
É da autoria de Thompson a música Bojna Cavoglave, considerada um hino de resistência contra os sérvios durante a Guerra de Independência da Croácia, na primeira metade dos anos 1990. A polêmica existe porque a canção começa com a saudação “Za dom, spremni!” (“Pela pátria, prontos!” , em uma tradução livre). E esse grito era usado pela Ustache.
Logo após a vitória da Croácia sobre a Argentina, azou um vídeo dos jogadores croatas no vestiário. Nele, o jogador Dejan Lovren canta os seguintes versos da música “Bojna Cavoglave”:
“Pela casa de nossos irmãos, pela liberdade, nós lutamos.”
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Como em momento algum Lovren apareceu cantando a saudação “Za dom, spremni!”, não houve represálias por parte da Fifa ou outras entidades esportivas.
O problema é que, logo depois, outros vídeos geraram controvérsia. Em provocação após a vitória sobre a Rússia, o zagueiro Domagoj Vida apareceu em gravações entoando mensagens de apoio à Ucrânia e dizendo que Belgrado, capital da Sérvia — país aliado da Rússia e adversário histórico da Croácia —, “estava em chamas”.
Domagoj Vida celebra com filho no colo após conquista da vaga na final da Copa
REUTERS/Carl Recine
Após a polêmica, Vida disse, em comunicado, que o vídeo “definitivamente não era uma mensagem política”, e foi apenas uma homenagem aos colegas e amigos dos tempos como jogador no Dínamo de Kiev.
“Ao longo da minha carreira, tive colegas de equipe de muitos países e respeito todos eles. E assim como tenho vários amigos na Ucrânia, tenho alguns na Rússia — e me orgulho de todos eles”, justificou Vida, em comunicado.
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